Como tudo começou
Camila era apenas um bebê quando começou a apresentar os primeiros sintomas de dermatite atópica. “Naquela idade eu já tinha a pele muito seca e, quando as feridas começaram a aparecer, minha mãe me levou ao médico”, conta a paulista de 29 anos, moradora de Pirituba, zona oeste de São Paulo.
A jovem foi a primeira da família e até então única, a ter DA. “Talvez meus avós tenham tido também, mas na época o diagnóstico era ainda mais difícil do que é hoje”, conta. A mãe de Camila, Marta, tem rinite e asma, características também típicas da atopia. Seu irmão mais velho, Marcelo, já não apresenta nenhum sintoma. “Ele sempre teve a pele super oleosa”, relembra Camila, “enquanto ele tinha várias espinhas, eu nunca tive nenhuma”.
Durante a infância Camila experimentou tanto tratamentos médicos quanto outros tipos pouco ortodoxos, indicados, principalmente, pelos familiares e amigos mais próximos. “Sempre tem os palpites, né? ‘Ah, tenta isso que funciona, tenta aquilo’... sempre tiveram as intervenções no meio do caminho”.
Hoje, Camila, que trabalha como analista de legislação ambiental e segurança do trabalho em uma empresa em São Paulo, controla suas crises com cremes hidratantes manipulados e medicamento imunobiológico, receitados pela médica responsável pelo seu acompanhamento, uma alergo-imunologista.
Ela ficou quietinha
Apesar do diagnóstico precoce, a infância e pré-adolescência de Camila não contaram com a presença da dermatite. “Ela ficou quietinha”, brinca. Talvez, por isso, a jovem não se lembre de episódios marcantes de bullying relacionados a sua pele. Foi só por volta dos 18 anos que as crises retornaram.
Na época, ela não sabia muito bem identificar o que provocava as crises. “Demorou pra eu tomar consciência do que estava acarretando tudo aquilo”. Somente algum tempo depois, Camila conseguiu entender o porquê.
Se conhecendo e se reconhecendo
“Entrei na sala, sentei e escondi minhas mãos embaixo das pernas e assim até o final da consulta. Na despedida, recuei do abraço”, lembra Camila sobre sua primeira consulta ao psicólogo, que começou a frequentar por insistência do irmão.
Antes de sair, o psicólogo expôs à Camila seu comportamento de esconder e recuar, como forma de defesa. “Naquele instante, percebi que tinha que continuar indo até ele, que ele ia me cutucar até eu melhorar”.
Hoje, a jovem consegue reconhecer de onde vinham as crises. Na época, ela estava passando por diversas questões em âmbito pessoal e profissional: a entrada na faculdade, a separação dos pais, mudança de casa e de bairro, e, um tempo depois, a morte do pai. “Eu estava passando por tudo isso, mas não dividia com ninguém. Eu não externava em palavras, e tudo se manifestava na pele”.
Camila ainda conta que as crises acabavam por deixá-la muito insegura. Ao andar na rua, sentia que tinham espelhos a cercando por todos os lados, como se estivesse sendo o tempo todo observada.
“Um exercício que meu psicólogo fazia era ficar parado, de braços cruzados, me olhando. Eu ficava super desconfortável e ele respondia que era necessário para que eu aprendesse a não me incomodar com esses olhares”.
Hoje Camila já recebeu alta das visitas ao psicólogo e confessa que abriu mão do controle de tudo. “Cada dia é um dia. Hoje eu consigo externalizar e entender de onde vêm as crises, mas não tenho a pretensão de controlar tudo”, conta.